Ao concluir o seu trabalho, passou a examiná-lo, e não ficou satisfeito com o que viu. Gastou uma noite pensando o que poderia fazer para melhorar aquele quadro. Então, pensou em pintar o Natal das luzes da cidade, da árvore enfeitada, do bom velhinho, tudo por sobre o Natal clássico, como num contraste. Em meio aos detalhes da estrebaria, lançou esta conhecidas figuras.
Mas, também, não ficou satisfeito. Mais uma noite gastou refletindo sobre o que fazer. E, na manhã seguinte tinha a resposta: faltava o engajamento com as questões do momento e, assim, criando um quadro tridimensional, pincelou os temas urgentes do mundo: a fome, a guerra, a injustiça, tudo clamando por uma mudança. Ao findar esta etapa, pensou: “creio que cheguei ao máximo, ao limite do verdadeiro Natal”. Mas, qual não foi a sua frustração quando admirava o trabalho e percebia estar faltando alguma coisa. Não havia brilho, por mais cores que ele houvesse usado; faltava sentido.
Foi dormir perturbado, pensando em que brilhante ideia ele poderia ter para completar o seu trabalho. Mas no dia seguinte não havia nenhuma ideia e, assim, nos dias que se seguiram. Mais de duas semanas haviam se passado, seu prazo estava para esgotar-se, mas ele não conseguia aquele toque especial.
Finalmente, muito cansado e, ao mesmo tempo, indignado com a sua incapacidade de pintar o verdadeiro Natal, tomou o quadro em suas mãos e, como quem fosse atirá-lo janela abaixo, de repente, seu rosto brilhou; ele se surpreendeu com uma cena inusitada: diante do vidro da janela, viu o reflexo do quadro e, no meio dele, a sua própria silhueta. E, como num passe de mágica, o quadro iluminou-se diante dos seus olhos; tudo estava lá: o Natal histórico, o contemporâneo, os desafios a serem vencidos, mas, agora, ele, também, estava inserido.
Três preciosas lições podem ser vistas a partir deste quadro:
A primeira delas é que o Natal só tem sentido quando nos inserimos nele. Por mais compreensão que tenhamos dos fatos históricos, por mais luzes que nos chamem a atenção, podemos permanecer absolutamente alheios, distantes e indiferentes, porque não nos sentimos parte. Daí, a própria celebração transformar-se até em aborrecimento. É preciso entrar no Natal.
Em segundo lugar, ver-se inserido no Natal enseja uma bendita oportunidade de podermos enxergar a nós mesmos refletidos em acontecimentos que vão bem além de nós e, principalmente, ver o próximo como se víssemos a nós mesmos. O nosso egoísmo, aquele que nos faz pensar que somos o centro do universo, perde força por conta do espírito natalino, fazendo-nos olhar o outro, sua história e suas lutas, alegrias e tristezas, com extrema relevância.
Finalmente, se é necessário entrar no espírito do Natal, mais verdadeiro ainda é que o Natal entre dentro de nós. Ou seja, que aquele que nasceu em Belém da Judéia, humilde e mansamente, nasça em nossos corações, dando sentido à nossa vida.